Fotografias:
Foto: Huaíne Nunes
Na época da fotografia analógica o filme fotográfico padrão era o famoso 35 mm que tinha uma dimensão de 36 mm x 24 mm. A primeira pergunta que pode ser feita: Por que 35 mm sendo que o tamanho é 36 mm x 24 mm? Na verdade 35 mm é a largura total do filme, sendo a área de registro de 36x24mm (veja a imagem do lado é vai ficar mais claro). Quando a fotografia migrou para o sistema digital esse tamanho passou a ter uma grande variação, em sua grande parte pelo fator custo. O sensor é uma das partes mais caras durante a produção da câmera, com isso virou trivial reduzir o tamanho do sensor para reduzir custos. Alem da redução de custo outro fator influencia nessa alteração: quanto menor o sensor, maior é a “potencia” de uma lente. Com isso as câmeras compactas foram adquirindo uma capacidade de aproximação do objeto o que se chama usualmente de zoom. Vejamos o exemplo da Sony DSC-HX200V – ela tem um sensor chamado comercialmente de Tipo 1/2,3 que tem 6,16x4,62 mm, uma lente de 4,8-144mm (zoom ótico de 30x – 144/4,8=30) equivalente a uma lente de 27-810 mm (fonte Site Sony). E é justamente dai que vem o “fator de corte”. Se dividirmos o valor equivalente da lente pelo valor real chegamos a 5,625 (27/4,8=5,625 ou 810/144=5.625) e é esse o “fator de corte” (ou Crop em inglês). Outra maneira de se achar o fator de Corte é ver a relação da diagonal do sensor (pelo teorema de Pitágoras hipotenusa de um triangulo-retangulo de 24x36mm=43,266 e de um triangulo-retangulo de 6,16x4,62 mm é 7,7mm) se dividirmos a diagonal do filme 35m pela diagonal do sensor 1/2,3 temos aproximadamente 5,625. Mas a grande pergunta é: o que é que isso muda na minha fotografia?
Em 1º lugar o já citado preço: para fotografar em uma câmera com sensor do mesmo tamanho da 35 mm (chamados comercialmente de full Frame) uma lente de 800mm sairia pela bagatela de R$ 35.000,00 (eu não digitei zeros a mais é trinta e cinco mil Reais mesmo). Mas como sempre na fotografia, nem tudo são flores. Se formos pensar na outra ponta, na área de grande angular da lente fazer uma grande angular equivalente a uma 10mm teríamos que ter uma lente com a distancia focal de apenas 1,77 mm, com isso a qualidade ótica do conjunto seria muito baixa. Outro fator contra é a qualidade da imagem, quanto menor o sensor mais sujeito ao ruído ele é. Com isso a faixa ISO disponível tende a ser menor e o ruído aparece com ISO mais baixo.
Uma consequência do fator de corte que acaba diferenciando e muito a fotografia feita com uma câmera de sensor full frame e uma com sensores pequenos é a profundidade de campo obtida ao fotografar. Mais uma vez isso pode ser bom ou ruim, dependendo do seu objetivo. Se a intenção é ter uma profundidade de campo grande, e você estiver usando uma câmera com sensor pequeno, você consegue com aberturas maiores, portanto com mais luz disponível e isso é bom. Mas é bastante complicado você, com uma câmera compacta, destacar um único plano da fotografia através de uma pequena profundidade de campo. Aliado a isso as pequenas lentes usadas com pequenos sensores tem menos valores de abertura de diafragma disponível, limitando assim a capacidade de criação do fotografo.
Hoje todas as câmeras vêm com um fotômetro de reflexão embutido, esse equipamento mede a quantidade de luz que o objeto reflete e, baseado em uma reflexa padrão (o padrão e o cinza com 18% de reflexão), estima qual a quantidade de luz que incide sobre o objeto a ser fotografado. Baseado nessa quantidade estimada de luz incidente a câmera defini o nível de exposição exigida, no caso do modo automático já define a abertura, tempo de exposição e ISO a ser utilizado. Ao fotografar em modos manuais a câmera apresenta uma escala parecida com a da imagem ao lado. Centralizando o marcador teremos a exposição que o sistema julga correta.
Ainda existem quatro principais modos de a câmera fazer essa leitura, de acordo com a área da imagem que ela considera. O Matricial, ponderado central, central e pontual e ai começa a parte divertida da brincadeira. O Modo matricial utiliza toda a área do censor para estimar a exposição adequada, o ponderado central utiliza toda a área (ou quase toda dependendo do seu equipamento), mas dá um peso maior para a área central. O central ou parcial como também é chamado, usam uma área do centro do visor de mais ou menos 7%(dependendo do seu equipamento) e o pontual que usa apenas 2% da areá total da fotografia. A escolha do método de medição também depende de equipamento para equipamento, alguns permitem a escolha manual outros mudam de acordo com o modo de cena a ser fotografado (sempre leia o manual de sua câmera, ele revelara muita coisa útil).
O modo matricial é o mais usado, não a toa, ele se vira bem com a maioria das cenas, de retratos à por do sol. No caso do por de sol pode ter gente que vai me chamar de herege por dizer isso, mas a maioria das pessoas não conseguiria utilizar o modo pontual para calcular a exposição correta, Em caso de erro na medição matricial é possível usar a compensação de exposição para solucionar o problema.
Os modos ponderados central e central são bastante uteis em casos de diferenças muito significativas de claridade entre o assunto e o fundo, como por exemplo, retratos com uma forte luz ao fundo ou mesmo em um show, por exemplo, que a área do palco é muito clara e a plateia fica escura. Nesse caso você aponta o centro do visor para a área de interesse da fotografia e faz a medição. Já o modo pontual é o mais difícil de utilizar, o fotografo precisa achar o ponto médio da cena e fazer a medição nele, por fornecer essa possibilidade da uma maior liberdade de criação. No caso de foto de por de sol, permite ao fotografo que domine a técnica escolher se o primeiro plano será totalmente escuro, apresentando apenas uma silhueta ou terá uma parte mais clara permitindo identificar elementos.
A renascença trouxe para a pintura elementos que buscavam um efeito realístico, utilizando os recursos técnicos disponíveis para que a representação estivesse o mais “real” possível. Mas a verdadeira pergunta é: A fotografia herdou essa necessidade de transpor a realidade em três dimensões e munida de movimento para um quadro estático em das dimensões?
Alem de fotografia dilata a visão natural e desenvolve outro tipo de visão: a visão fotográfica, munida de um simbolismo próprio e uma estética peculiar. Ela não necessariamente é realista, pode muita das vezes ser surrealista retratando de maneira fiel a realidade, mas dando uma interpretação totalmente distinta. Existe muita subjetividade na fotografia, ela pode mentir ou distorcer a verdade de maneira proposital para fornecer um prazer estético que o simples retrato da realidade não proporcionaria.
Para essa transmutação consciente do “real” para algo “belo”, no sentido artístico da palavra, é necessário um olhar apurado alem de um conhecimento técnico e equipamentos capazes de suprir essa necessidade. A utilização das diferentes “linguagens fotográficas” ajuda o fotografo nessa difícil missão. Utilizando os elementos descritos nos artigos de nossas Colaboradoras Viviane Moraes, Simone Dreves e Clarissa com certeza tornar-se-á mais fácil. A pesquisa e conhecimento do trabalho de fotógrafos de referencia, entre eles Henri Cartier-Bresson, Sebastião Salgado, Boris Kossoy e Richard Avedon, a observação de obras artísticas como a pintura, escultura e até mesmo a arquitetura, junto com a pratica e o experimentalismo podem ajudar desenvolver uma linguagem única.